Ela vivia assim. Chorando pelos cantos. Pelo menos, era o
que seus colegas da escola diziam: “Lá vai a chorona”, “Lá vem ela se lamentar”.
Porém, ela nunca percebera esses comentários até certo dia.
Ela considerava muitos de seus colegas verdadeiros amigos.
Se abria com eles, contava suas angústias, problemas e alegrias. Em sua
percepção, isso não era nada demais, afinal, amigos são para compartilhar
momentos felizes e tristes.
Ela, que tinha diversos problemas, traumas, feridas ainda
não cicatrizadas, se dizia melhor e mais forte a cada dia. Mas, bastou ouvir
aquela frase da boca de um amigo “Você vive chorando pelos cantos” para cair no
precipício que já lhe era familiar.
Num primeiro momento, congelou.
Não sabia o que dizer.
Não disse nada.
Não sabia o que pensar.
Ficou com raiva, com ódio, com vontade de socar a parede e
chorar. Sentiu a flecha da decepção aceitar em cheio o meio do seu coração.
“Ela vivia chorando pelos cantos.”
Precisava aceitar isso.
Precisava!
Precisou.
Precisou parar e pensar com clareza.
“Poxa vida! Então todas as minhas confidencias sempre foram
interpretadas como ‘choro’?”.
Parou.
Não tinha mais o que pensar.
Aprendeu que precisava escolher melhor seus amigos.
Decidiu não contar mais suas coisas a quem não dissesse
respeito.
E ficou quieta por dias.
Fiquei quieta por meses.