terça-feira, 5 de abril de 2016

Covardia.

Existia algo além da vista da sua janela. E ela sabia disso, pois ficava imaginando que além daquele muro, qual a separava do resto do mundo, existia uma realidade diferente da sua.
Ela sonhava, todos os dias, em fugir pela janela. Sair correndo. Pegar um ônibus, um taxi, um trem. Ir atrás dos desafios que o desconhecido lhe proporcionaria. Mas não ia.

Ficava parada.
Apenas realizando ações em seus pensamentos. Criava histórias e expectativas para quando fosse viver a vida real.
Ela não ia.
Não tinha coragem o suficiente e tinha consciência desse seu defeito, ou medo. Ao olhar-se no espelho, dizia: COVARDE!
Muitos foram os que a convidaram para desbravar as terras longínquas, para conhecer os mistérios os mistérios do mar. Contudo, ela não tinha coragem de sair.
Sentia-se presa aos pés da sua cama e ao conforto do seu colchão.
E assim o tempo passou e ela morreu.
Veio a óbito acomodada em seus lençóis de cigana e sem despertar para realizar os seus tantos sonhos.


quinta-feira, 31 de março de 2016

Você vive chorando pelos cantos.

Ela vivia assim. Chorando pelos cantos. Pelo menos, era o que seus colegas da escola diziam: “Lá vai a chorona”, “Lá vem ela se lamentar”. Porém, ela nunca percebera esses comentários até certo dia.
Ela considerava muitos de seus colegas verdadeiros amigos. Se abria com eles, contava suas angústias, problemas e alegrias. Em sua percepção, isso não era nada demais, afinal, amigos são para compartilhar momentos felizes e tristes.
Ela, que tinha diversos problemas, traumas, feridas ainda não cicatrizadas, se dizia melhor e mais forte a cada dia. Mas, bastou ouvir aquela frase da boca de um amigo “Você vive chorando pelos cantos” para cair no precipício que já lhe era familiar.
Num primeiro momento, congelou.
Não sabia o que dizer.
Não disse nada.
Não sabia o que pensar.
Ficou com raiva, com ódio, com vontade de socar a parede e chorar. Sentiu a flecha da decepção aceitar em cheio o meio do seu coração.
“Ela vivia chorando pelos cantos.”
Precisava aceitar isso.
Precisava!
Precisou.
Precisou parar e pensar com clareza.
“Poxa vida! Então todas as minhas confidencias sempre foram interpretadas como ‘choro’?”.
Parou.
Não tinha mais o que pensar.
Aprendeu que precisava escolher melhor seus amigos.
Decidiu não contar mais suas coisas a quem não dissesse respeito.
E ficou quieta por dias.

Fiquei quieta por meses.